Assassinato dos irmãos Novelino completa 4 anos

Quatro anos se passaram de um crime considerado pela polícia como um dos mais cruéis que há na história do Estado do Pará. A data de 25 de abril para a família Novelino é para lembrar a morte dos irmãos Ubiraci e Uraquitã Borges Novelino, assassinados barbaramente dentro da empresa Service Brasil numa trama que envolveu dívidas e uma teia de negócios empresariais.

O DIÁRIO acompanha até hoje o caso que teve um desfecho trágico para uma família que lembra com saudade dos jovens empresários. Ubiraci e Uraquitã tiveram os corpos jogados a 17 metros de profundidade na Baía do Guajará.

O “caso irmãos Novelino”, como ficou conhecida a trama, teve um desfecho trágico depois que as vítimas receberam um telefonema do empresário Chico Ferreira, muito conhecido nas rodadas sociais como um dos mais novos ricos do Estado.
ATRAÇÃO

O contato seria para acertar, no escritório de Chico, uma dívida que até hoje não se tem conhecimento exato do valor.

Falaram no inquérito em R$ 4 milhões. Quando os irmãos foram convidados para receber a quantia naquela noite de 25 de abril de 2007, a trama diabólica engendrada pelos parceiros de Chico Ferreira já estava montada. De acordo com o volumoso inquérito policial, foram sucessivas encenações mostrando que seria um crime quase perfeito.

As investigações da época apontaram o ex-radialista Luiz Araújo, que faleceu no ano passado, quando cumpria pena no Presídio Federal de Mato Grosso, como o intermediário para a contratação dos executores e responsável por toda a logística que terminaria com a morte dos irmãos.

Sem desconfiar que estivessem caindo numa armadilha, os irmãos Novelino chegaram à sede da empresa, na rua São Pedro, bairro Batista Campos. Era início da noite de 25 de abril. Foram rendidos por dois homens, identificados posteriormente como o ex-policial civil Sebastião Cardias e o ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim.

Tudo levava a crer que se tratava de um assalto, pois dentro da trama o empresário Chico Ferreira, considerado pela polícia como o mandante do crime, também foi dominado e levado para outra sala. Os irmãos, imobilizados, foram postos em um auditório da empresa e lá assassinados a golpes de pernas-mancas.

Em seguida, os corpos foram colocados em camburões e transportados em uma Fiorino da empresa até um porto na avenida Bernardo Sayão, sendo colocados em uma pequena embarcação e levados pelos executores até o meio da Baía do Guajará, onde foram jogados a 17 metros de profundidade.

O desaparecimento dos irmãos levou a família no dia seguinte à Divisão de Investigações e Operações Especiais. O pai das vítimas, o empresário Ubiratã Lessa Novelino, esteve cara a cara com o também empresário Chico Ferreira, que contou uma história digna de roteiro de um filme.
A VERDADE

A casa começou a cair depois que a polícia descobriu o carro que os irmãos utilizaram no dia do crime, sendo desmontado no sítio Gueri-Gueri, do ex-radialista Luiz Araújo. Preso, o acusado entrou em contradição e a prisão dos envolvidos na trama foi um efeito dominó.

Depois de Luiz Araújo, os delegados Gilvandro Furtado, Servulo Cabral, Evandro Martins, Justiniano Alves e um grupo de investigadores prenderam em uma clínica, no bairro do Reduto, o empresário Chico Ferreira, e na sequência o mecânico Messias de Jesus, contratado para desmontar o carro, e João Carlos Figueiredo, que pilotou o barco até a Baía do Guajará.

Faltavam as duas peças importantes para a Polícia Civil desmontar o esquema criminoso. Identificados pelo restante do grupo, o ex-policial civil Sebastião Alves Cardias se entregou ao juiz Paulo Jussara, sendo apresentado na DRCO e dias depois a polícia prendeu em Fortaleza, Ceará, o ex-fuzileiro naval José Augusto Marroquim de Sousa.
Condenação está entre as maiores do estado
Com uma tramitação célere, os seis homens foram levados ao Tribunal do Júri em menos de seis meses. Do dia 21 de novembro de 2007, após uma das sessões mais longas do Tribunal do Júri, com plateia de vigília nos arredores do Fórum Criminal, o barqueiro João Carlos Figueiredo e o mecânico Messias de Jesus foram absolvidos a pedido do Ministério Público.

Já o mandante, Chico Ferreira, o intermediário Luiz Araújo e os executores Sebastião Cardias e José Augusto Marroquim foram condenados a 80 anos de prisão, sendo 60 anos pelo duplo homicídio, triplamente qualificado, e 20 anos pelos crimes conexos.
GUERRA PELA INOCÊNCIA

Começou uma guerra de advogados e, utilizando as “brechas” no meio jurídico, ainda conseguiram com que mais três tribunais do júri fossem realizados. Um deles foi anulado depois que advogados de Luiz Araújo abandonaram a defesa uma hora antes do veredicto dos jurados.

Todos os júris foram presididos pelo juíz Raimundo Moisés Alves Flexa e tiveram na acusação um dos mais brilhantes promotores do Tribunal do Júri: o promotor Paulo Guilherme Godinho.

Com direito a um segundo julgamento, os jurados mantiveram o resultado do primeiro júri condenando os quatro homens a 80 anos de reclusão, pena considerada uma das maiores já impostas no Pará.
OS CONDENADOS

Chico Ferreira e José Augusto Marroquim cumprem pena na Penitenciária de Segurança Máxima em Americano. Sebastião Cardias, se valendo de uma legislação em vigor, conseguiu vaga na Penitenciária Anastácio Neves, na qualidade de ex-policial.

O quarto integrante do grupo de criminosos, Luiz Araújo, morreu ano passado, quando cumpria pena na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, vítima de complicações cardíacas.
HOMENAGENS

Para lembrar a morte dos irmãos Ubiraci e Uraquitã Borges Novelino, a família manda celebrar missa pelos quatro anos de falecimento na Igreja do Pão de Santo Antônio, no bairro do Guamá. A celebração será às 20h30 de segunda-feira, 25. O celebrante será o padre Eloi Wayth, capelão da Polícia Militar.

Para o pai das vítimas, Ubiratã Lessa Novelino, embora tenha sido feita justiça, a dor da perda dos filhos ainda é muito grande. “Você não imagina o que é perder um filho, quanto mais dois”.